Todo o amor que nos
prendera
como se fora de cera
se quebrava e desfazia
ai funesta primavera
quem me dera, quem nos dera
ter morrido nesse dia
E condenaram-me a tanto
viver comigo meu pranto
viver, viver e sem ti
vivendo sem no entanto
eu me esquecer desse encanto
que nesse dia perdi
Pão duro da solidão
é somente o que nos dão
o que nos dão a comer
que importa que o coração
diga que sim ou que não
se continua a viver
Todo o amor que nos
prendera
se quebrara e desfizera
em pavor se convertia
ninguém fale em primavera
quem me dera, quem nos dera
ter morrido nesse dia
David Mourão-Ferreira
Nesta primavera que tarda, a mania de recordar datas de outras primaveras radiantes de sol, calor e afetos!...
Mesmo no "Outono" da nossa vida, a Primavera está aí, para nos alegrar com as mil flores que nos presenteia todos os anos...
Mesmo com primavera chuvosa e fria, no largo de São Vicente,
as arvores seguem o seu ciclo de renovação...
Vai alta no céu a lua da Primavera.
Penso em ti e dentro de mim estou completo.
Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.
Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,
E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.
Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,
Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,
Isso será uma alegria e uma verdade para mim.
Alberto Caeiro
(in O Pastor Amoroso)
Aqui, na Fortaleza do Silêncio, o vento sopra suave, talvez não seja vento, seja apenas uma brisa que toca suavemente na vidraça da janela e faz ecoar os sons da memória…
No baú da memória, o som de um sorriso lindo, o brilho de um olhar apaixonado, o silêncio das palavras que ecoam nos infinitos muros da Fortaleza, nestes muros que não são apenas virtuais, nestes muros que ladeiam o pensamento, que impedem que os olhares se toquem, que os sorrisos se cruzem, que as memórias não se desvaneçam na espuma dos dias, até porque, como um dia nos disse William Shakespeare "Lembrar é fácil para quem tem memória. Esquecer é difícil para quem tem coração."
No silêncio da minha fortaleza procuro as palavras, procuro alinhar as letras, procuro dar sentido ao sentido, procuro e não encontro palavras que não foram ditas, palavras que ficaram no mais recôndito armário de uma memória viva, de uma memória cheia de recordações, de uma memória que teima em não se apagar, de uma memória resiliente, de uma memória que tem um misticismo próprio…
É primavera de um ano que não teve inverno, é primavera de um tempo em que o tempo teima em acontecer velozmente, os dias, os meses e até os anos sucedem-se a uma velocidade vertiginosa, estonteante por vezes, mas o que interessa isso?… O que interessa é que é novamente Primavera!
Nesta madrugada fria de um dia de primavera, tento ouvir o silêncio… não consigo!
Aqui e ali ouvem-se os “mil” sons deste silêncio, a brisa na janela, o chilrear dos pássaros, ao longe o murmurar do mar, agora, são as bátegas de água que começam a açoitar as vidraças da minha janela, nunca há silêncio completo!
J.S.
O desenho
redondo do teu seio
Tornava-te mais cálida, mais nua
Quando eu pensava nele...Imaginei-o,
À beira-mar, de noite, havendo lua...
Talvez a espuma, vindo, conseguisse
Ornar-te o busto de uma renda leve
E a lua, ao ver-te nua, descobrisse,
Em ti, a branca irmã que nunca teve...
Pelo que no teu colo há de suspenso,
Te supunham as ondas uma delas...
Todo o teu corpo, iluminado, tenso,
Era um convite lúcido às estrelas....
As sombras do rio Tâmega.....
Outra sombra.....
Outras sombras.....
Fotos de "O Solitário"
Um bom fim de semana e para quem for de férias, boas férias da Páscoa.
Fotos de "O Solitário"
"O Solitário"
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