Fernando Pessoa escreveu uma carta imaginária à sua querida Ophélinha, uma carta poética que só alguém como ele, o sabia fazer. Nessa carta que terminava com reticiciências, e antecedendo essas reticiciências, o poeta escreveu … “Só nós sabemos que fingir é conhecer-se….”
“Carta imaginária” datada de 03 de Abril de 1920, que hoje, podia ser uma “carta virtual”, ou ainda, simplesmente um “mail”, nada como há alguns anos atrás, uma carta escrita nas folhas brancas de um papel ansioso de palavras, o envelope fechado, selo colado e marco do correio para seguir a seu destino! Bons tempos, em que não existia código postal, a expectativa da resposta na volta do correio, deixava-nos em suspense, ansiosos pela carta – resposta ou a ansiedade da resposta, que por vezes tardava ou não chegava!
Tantas cartas escritas, tantas cartas lidas, tanto sonho e tanto sorriso lido nas palavras simples, mas que traduziam sentimento e paixão… sinto saudades de “uma carta”, talvez por isso, escreva muitas “cartas imaginárias”, não como a de Pessoa, mas cartas simples, escritas por um homem simples, cartas que permanecem escritas, que arrumo na prateleira dos sonhos, que preservo no baú da memória para que nem uma só palavra se vá perder, para salvaguardar religiosamente o seu sentido.
Uma das incontáveis cartas...
Regressei ao sítio onde te conheci pessoalmente, sentei-me na mesma mesa, o mesmo ambiente morno de café ao fim do dia e senti de novo o teu sorriso, recordei aquele dia frio de Fevereiro em que algo de ti transcendeu, conhecer-te superou a minha expectativa, de como serias, como seria o teu sorriso, como seriam as reacções, a tua e a minha… e no final deste encontro, apenas isto: ter-te conhecido foi um privilégio!
Depois, sim depois, percorri lentamente outros caminhos, outras alamedas, algumas ladeadas de relva, sentei-me nos mesmos locais, olhei as árvores com as suas grossas raízes que foram cúmplices de nossos encontros, vi pessoas a correr de um lado para outro, uns vindos do metro, outros indo para lá, desci às entranhas de um local onde verti uma lágrima, não sei se uma ou mais, mas sei que foram sentidas, olhei a composição afastando-se sobre carris e escutei aquele estridente som metálico e fiquei ….
Afixei na memória das imagens, a tua imagem, aquela imagem afastando-se lentamente, que descia a escadaria degrau a degrau, que não tinha o sorriso de outras alturas, que expressava um olhar triste, talvez resignado, talvez confuso, mas sempre, sempre belo, e eu, não sabia como te olhar e com os olhos orvalhados de saudade… imaginei-te!
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