Não leves tua lembrança.
Deixa-a sozinha em meu peito,
tremor de alva cerejeira
no martírio de Janeiro.
Separa-me dos defuntos
um muro de pesadelos.
Dou mágoa de lírio fresco
para um coação de gesso.
A noite inteira no horto
meus olhos, como rafeiros.
A noite inteira, a comer
os marmelos de veneno.
Algumas vezes o vento
é uma tulipa de medo;
é uma tulipa doente
a madrugada de Inverno.
Um muro de pesadelos
separa-me dos defuntos.
A erva cobre em silêncio
o vale pardo do teu corpo.
Já pelo arco do encontro
a cicuta vem crescendo.
Mas deixa tua lembrança.
Deixa-a sozinha em meu peito.
Garcia Lorca