O Solitário

Praia lado nascente, manhã de domingo de Outono...

Lado poente...

 A bóia...

Eu não procuro nada em ti, 
nem a mim próprio, é algo em ti 
que procura algo em ti 
no labirinto dos meus pensamentos. 

Eu estou entre ti e ti, 
a minha vida, os meus sentidos 
 (principalmente os meus sentidos)  
toldam de sombras o teu rosto. 

O meu rosto não reflecte a tua imagem 
o meu silêncio não te deixa falar, 
o meu corpo não deixa que se juntem 
as partes dispersas de ti em mim. 

Eu sou talvez 
aquele que procuras, 
e as minhas dúvidas a tua voz 
chamando do fundo do meu coração. 

Manuel António Pina, in “O Caminho de Casa” 

Verdade!

Não sei onde, mas sei que estavas ali,

os teus cabelos brandiam a uma ligeira brisa que teimosamente soprava,

sei que, como sempre, o teu sorriso lindo realçava  a mesma beleza,

tantos anos depois, e eu, talvez embaraçado,

refugiei-me naquele velho tique de passar a mão sobre a nuca,

uma, duas, não sei, talvez três vezes… ou talvez mais, pouco importa,

não me recordo,

só recordo que também sorri!