Sexta-feira, 30 de Maio de 2008
Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder
Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós
Letra: José Niza
Quarta-feira, 28 de Maio de 2008
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade
Manuel Alegre
Sexta-feira, 23 de Maio de 2008
... Várias vezes, no decurso da minha vida opressa por circunstâncias, me tem sucedido, quando quero libertar-me de qualquer grupo delas, ver-me subitamente cercado por outras da mesma ordem, como se houvesse definidamente uma inimizade contra mim na teia incerta das coisas.
Arranco do pescoço uma mão que me sufoca. Vejo que na mão, com que a essa arranquei, me veio preso um laço que me caiu no pescoço com o gesto de libertação. Afasto, com cuidado, o laço, e é com as próprias mãos que me quase estrangulo.
do livro "Desassossego" de Fernando Pessoa
Quinta-feira, 22 de Maio de 2008
Que com sabedoria encanta
Experiência é sua essência
Corpo e alma desfila experiência
Do amor e da alma tem plena consciência
Amiga, amante companheira
De colo aconchegante
Tanto como amiga
Quanto como amante
Conhece os segredos do amor
Tanto os do coração
Quanto os da paixão
Domina as sensações e emoções
Incendeia o seu amor
como um vulcão em erupção
amorosa amante
se entrega sem restrição
não estabelece limites
Nem condição
Sem cobranças
Sabe ter e dar prazer
Conhece os segredos, sabe muito bem
onde e como está a beleza
forja com mestria sua natureza
E o emocional manipula sem igual
Nela estão contidos todos os momentos
De menina mulher, adolescente,
no instante certo, é criança é madura
dosa sensações e emoções com doçura
Pois seus perfumes e essências
Purificados, perfumados
Condensados em extractos
Hormonios fluindo para o coração
Palpitando o amor em paixão
Moderadamente contida
Sabendo exactamente cada medida
dos carinhos, da sensualidade e sexualidade
Mulher de cinquenta
que a todos encanta
é charme, é deleite
é fascinação que deslumbra o coração
Com sua alma iluminada
É luz que ao amor reluz
que ao desejo seduz
Poção que ao prazer conduz
Mulher de cinquenta, aconchegante e quente
Fruta madura feiticeira
Doce, fogosa, faceira
Sabor de amor que sacia, vicia e não cura
Joe’A - http://amizadepoesia.wordpress.com/
Segunda-feira, 19 de Maio de 2008
Letra do fado de Coimbra "A Samaritana"
Dos amores do Redentor
Não reza a História Sagrada
Mas diz uma lenda encantada
Que o bom Jesus sofreu de amor
Sofreu consigo e calou
Sua paixão divinal
Assim como qualquer mortal
Que um dia de amor palpitou
Samaritana plebeia de Cicár
Alguém espreitando te viu Jesus beijar
De tarde, quando foste encontrá-lo só
Morto de sede junto à fonte de Jacob
E tu serena acolheste
O beijo que te encantou
Serena empalideceste
E Jesus Cristo corou
Corou por ver quanta luz
Irradiava da tua fronte
Quando disseste - Oh Meu Jesus
Que bem eu fiz Senhor em vir à fonte!
Domingo, 18 de Maio de 2008

Foto "O Solitátrio"...
Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!
Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.
Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?
Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto....
Olavo Bilac
Segunda-feira, 12 de Maio de 2008

Foto O Solitário
O teu olhar assustado
O teu coração pulsando
As tuas faces afogueadas
Onde os meus beijos como brasas
Encontram os teus beijos,
Saboreiam o teu corpo,
São a recordação,
O sonho mais perfeito
Da vida que vivemos.
Esquecemos o mundo
Aquilo que fazemos,
Somos um só.
(Cunha Simões)
Domingo, 11 de Maio de 2008

Foto O Solitário
A pessoa que sou é única, limitada a um nascer e a um morrer, presente a si mesma e que só à sua face é verdadeira, é autêntica, decide em verdade a autenticidade de tudo quanto realizar. Assim a sua solidão, que persiste sempre talvez como pano de fundo em toda a comunicação, em toda a comunhão, não é 'isolamento'. Porque o isolamento implica um corte com os outros; a solidão implica apenas que toda a voz que a exprima não é puramente uma voz da rua, mas uma voz que ressoa no silêncio final, uma voz que fala do mais fundo de si, que está certa entre os homens como em face do homem só. O isolamento corta com os homens: a solidão não corta com o homem. A voz da solidão difere da voz fácil da fraternidade fácil em ser mais profunda e em estar prevenida.
Vergílio Ferreira, in 'Espaço do Invisivel I'
Sexta-feira, 9 de Maio de 2008

E no teu rosto aberto sobre o mar
cada palavra era apenas o rumor
de um bando de gaivotas a passar.
Eugénio de Andrade
Deixa que eu continue a ser uma gaivota
A voar
De asas abertas
Sobre o oceano...
Vem comigo
Ser pétala
Asa
Mais nada...
Vem
Seguir o vento...
Pousar cantando
No alto de um abeto
Ou de uma casa...
Julieta Lima
Segunda-feira, 5 de Maio de 2008

Vem.
Vem comigo
Cansados de amor
mergulhemos juntos na noite
no silêncio dos amantes
amor amor amor
repete comigo
as palavras que nos dão paz.
(retirado da Net texto e foto Luis Rodrigues)
Sábado, 3 de Maio de 2008
Que importa a melodia,
se acaso aos outros dou,
com pávida alegria,
o pouco que me sou?
Que importa ao que me sabe
estar só no meu caminho,
se dentro de mim cabe
a glória de ir sozinho?
Que importa a vã ternura
das horas magoadas,
se ao meu redor perdura
o eco das passadas?
Que importa a solidão
e o não saber onde ir,
se tudo, ao coração,
nos fala de partir?
Daniel Filipe