Quinta-feira, 24 de Janeiro de 2008
Recordo a última vez que beijei os teus seios, a última vez que me afoguei nos teus olhos, a última vez que enlacei o teu corpo de encontro ao meu soltei-te demasiado cedo porque imaginei um reencontro.
Mas um reencontro que não aconteceu, talvez por isso vivam agarrados a mim: o teu cheiro, o teu sabor; a tua pele; Não te esquecerei, vives em mim para sempre.
Quero apagar-te da memória, mas também te quero amar, agora! Quero-te e não te quero. Não sei o que quero, o que importa é que vivi (te vivi) isso faz-me feliz!
Talvez não gostes de ouvir, que te amei para lá da loucura, que tudo isso me fez ter medo, que sim, te vi perfeita.
Talvez não suportes ouvir, que eu ainda te amo, ainda te quero, ainda me quero afogar no teu corpo, viver para sempre dentro de ti.
Mas também quero esquecer por momentos que existes, para voltar a ser eu, sozinho, com sonhos onde a vida existe para além do teu corpo, mas o que é que eu quero?.... Quero-te a ti! "
Este texto foi escrito para alguém que "partiu"...... e que gentilmente, há cerca de um ano, foi colocado num Blog, já extinto, obrigado!...Agora, recordo....
Quando ela passa à minha porta,
Magra, lívida, quase morta,
E vai até à beira-mar,
Lábios brancos, olhos pisados:
Meu coração dobra a finados,
Meu coração põe-se a chorar.
Perpassa leve como a folha,
E, suspirando, às vezes olha
Para as gaivotas, para o Ar:
E, assim, as suas pupilas negras
Parecem duas toutinegras,
Tentando as asas para voar!
Veste um hábito cor de leite,
Saiinha lisa, sem enfeite,
Boina maruja, toda luar:
Por isso, mal na praia alveja,
As mais suspiram com inveja:
«Noiva feliz, que vais casar...»
Triste, acompanha-a um "Terra Nova"
Que, dentro em pouco, à fria cova
A irá de vez acompanhar...
O chão desnuda com cautela,
Que "Boy" conhece o estado dela:
Quando ela tosse, põe-se a uivar!
E, assim, sozinha com a aia,
Ao Sol, se assenta sobre a praia,
Entre os bebés, que é o seu lugar.
E o Oceano, trémulo avozinho,
Cofiando as barbas cor de linho,
Vai ter com ela a conversar.
Falam de sonhos, de anjos, e ele
Fala d'amor, fala daquele
Que tanto e tanto a faz penar...
E o coração parte-se todo,
Quando a sorrir, com tão bom modo,
O Mar lhe diz: «Há-de sarar...»
Sarar? Misérrima esperança!
Padres! ungi essa criança,
Podeis sua alma encomendar:
Corpinho d'anjo, casto e inerme,
Vai ser amada pelo verme,
Os bichos vão-na desfrutar.
Sarar? Da cor dos alvos linhos,
Parecem fusos seus dedinhos,
Seu corpo é roca de fiar...
E, ao ouvir-lhe a tosse seca e fina,
Eu julgo ouvir numa oficina
Tábuas do seu caixão pregar!
Sarar? Magrita como o junco,
O seu nariz (que é grego e adunco)
Começa aos poucos de afilar,
Seus olhos lançam ígneas chamas:
Ó pobre mãe, que tanto a amas,
Cautela! O Outono está a chegar...
( António Nobre - Só)
Quarta-feira, 23 de Janeiro de 2008
As pessoas são solitárias porque constroem paredes em vez de pontes.
(Joseph F. Newton)
Terça-feira, 22 de Janeiro de 2008
Teu coração dentro do meu descansa,
Teu coração, desde que lá entro:
E tem tão bom dormir essa criança!
Deitou-se, ali caiu, ali ficou.
Dorme, menino! dorme, dorme, dorme!
O que te importa o que no mundo vai?
Ao acordares desse sono enorme,
Tu julgarás que se passou num ai.
Dorme, criança! dorme sossegada
Teus sonhos brancos ainda por abrir:
Depois a morte não te custa nada,
Porque a ela habituaste-te a dormir...
Dorme, meu anjo! (a noite é tão comprida!)
Que doces sonhos tu não hás-de ter!
Depois, com o hábito de os ter na vida,
Continuarás depois de falecer...
Dorme, meu filho! Cheio de sossego,
Esquece-te de tudo e até de mim!
Depois... de olhos fechados, és um cego,
Tu nada vês, meu filho! e antes assim...
Dorme os teus sonhos, dorme, e não mos digas,
Dorme, filhinho, dorme «ó-ó...»
Dorme, minha alma canta-te cantigas,
Que ela é velhinha como a tua avó!
Nenhuma ama tem um pequenino
Tão bom, tão meigo; que feliz eu sou!
E tem tão bom dormir esse menino...
Vou sobre o oceano (o luar, de doce, enleva!)
Por este mar de glória, em plena paz.
Terras da Pátria somem-se na treva
Águas de Portugal ficam, atrás.
Onde vou eu? Meu fado onde me leva?
António, onde vais tu, doido rapaz?
Não sei. Mas o vapor, quando se eleva,
Lembra o meu coração, na ânsia em que jaz.
Ó Lusitânia que te vais à vela!
Adeus! que eu parto (rezarei por ela)
Na minha Nau Catarineta, adeus!
Paquete, meu paquete, anda ligeiro,
Sobe depressa à gávea, marinheiro,
E grita, França! pelo amor de Deus!
António Nobre